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domingo, 24 de agosto de 2014

CONCURSO DE POESIAS COM O TEMA "OS LÍRIOS NÃO NASCEM DA LEI"

O poeta lutador Carlos Drummond, nossa inspiração


A revista "Contra Legem", editada pelo CESTRAJU   (Centro de Estudos Socialistas dos Trabalhadores do Judiciário), está realizando um concursinho de poesias com o tema "Os lírios não nascem da lei". Os poemas participantes serão publicados na revista como divulgação. O vencedor ganhará um livro da escritora e atriz Elisa Lucinda sobre o escritor Fernando Pessoa. 

É uma iniciativa despretensiosa, mas bonita e que vale a pena.

As poesias devem ser enviadas, até 14/09/2014 para: cestraju@gmail.com.

Haverá um evento literário com declamação de poemas participantes no SEPE-RJ (Sindicato dos Profissionais da Educação) na quarta-feira 17/09/14, 19h - Rua Evaristo da Veiga, 55, auditório, Cinelândia, Rio, RJ

Abaixo o poema com o verso tema do concurso:

NOSSO TEMPO
(por: Carlos Drummond de Andrade)

I

Esse é tempo de partido,
tempo de homens partidos.

Em vão percorremos volumes,
viajamos e nos colorimos.
A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.
Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.
As leis não bastam. Os lírios não nascem
da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se
na pedra.

Visito os fatos, não te encontro.
Onde te ocultas, precária síntese,
penhor de meu sono, luz
dormindo acesa na varanda?
Miúdas certezas de empréstimos, nenhum beijo
sobe ao ombro para contar-me
a cidade dos homens completos.

Calo-me, espero, decifro.
As coisas talvez melhorem.
São tão fortes as coisas!
Mas eu não sou as coisas e me revolto.
Tenho palavras em mim buscando canal,
são roucas e duras,
irritadas, enérgicas,
comprimidas há tanto tempo,
perderam o sentido, apenas querem explodir.

II

Esse é tempo de divisas,
tempo de gente cortada.
De mãos viajando sem braços,
obscenos gestos avulsos.

Mudou-se a rua da infância.
E o vestido vermelho
vermelho
cobre a nudez do amor,
ao relento, no vale.

Símbolos obscuros se multiplicam.
Guerra, verdade, flores?
Dos laboratórios platônicos mobilizados
vem um sopro que cresta as faces
e dissipa, na praia, as palavras.

A escuridão estende-se mas não elimina
o sucedâneo da estrela nas mãos.
Certas partes de nós como brilham! São unhas,
anéis, pérolas, cigarros, lanternas,
são partes mais íntimas,
e pulsação, o ofego,
e o ar da noite é o estritamente necessário
para continuar, e continuamos.

III

E continuamos. É tempo de muletas.
Tempo de mortos faladores
e velhas paralíticas, nostálgicas de bailado,
mas ainda é tempo de viver e contar.
Certas histórias não se perderam.
Conheço bem esta casa,
pela direita entra-se, pela esquerda sobe-se,
a sala grande conduz a quartos terríveis,
como o do enterro que não foi feito, do corpo esquecido na mesa,
conduz à copa de frutas ácidas,
ao claro jardim central, à água
que goteja e segreda
o incesto, a bênção, a partida,
conduz às celas fechadas, que contêm:
papéis?
crimes?
moedas?

Ó conta, velha preta, ó jornalista, poeta, pequeno historiados urbano,
ó surdo-mudo, depositário de meus desfalecimentos, abre-te e conta,
moça presa na memória, velho aleijado, baratas dos arquivos, portas rangentes, solidão e asco,
pessoas e coisas enigmáticas, contai;
capa de poeira dos pianos desmantelados, contai;
velhos selos do imperador, aparelhos de porcelana partidos, contai;
ossos na rua, fragmentos de jornal, colchetes no chão da
costureira, luto no braço, pombas, cães errantes, animais caçados, contai.
Tudo tão difícil depois que vos calastes...
E muitos de vós nunca se abriram.

IV

É tempo de meio silêncio,
de boca gelada e murmúrio,
palavra indireta, aviso
na esquina. Tempo de cinco sentidos
num só. O espião janta conosco.

É tempo de cortinas pardas,
de céu neutro, política
na maçã, no santo, no gozo,
amor e desamor, cólera
branda, gim com água tônica,
olhos pintados,
dentes de vidro,
grotesca língua torcida.
A isso chamamos: balanço.

No beco,
apenas um muro,
sobre ele a polícia.
No céu da propaganda
aves anunciam
a glória.
No quarto,
irrisão e três colarinhos sujos.

V

Escuta a hora formidável do almoço
na cidade. Os escritórios, num passe, esvaziam-se.
As bocas sugam um rio de carne, legumes e tortas vitaminosas.
Salta depressa do mar a bandeja de peixes argênteos!
Os subterrâneos da fome choram caldo de sopa,
olhos líquidos de cão através do vidro devoram teu osso.
Come, braço mecânico, alimenta-te, mão de papel, é tempo de comida,
mais tarde será o de amor.

Lentamente os escritórios se recuperam, e os negócios, forma indecisa, evoluem.
O esplêndido negócio insinua-se no tráfego.
Multidões que o cruzam não vêem. É sem cor e sem cheiro.
Está dissimulado no bonde, por trás da brisa do sul,
vem na areia, no telefone, na batalha de aviões,
toma conta de tua alma e dela extrai uma porcentagem.

Escuta a hora espandongada da volta.
Homem depois de homem, mulher, criança, homem,
roupa, cigarro, chapéu, roupa, roupa, roupa,
homem, homem, mulher, homem, mulher, roupa, homem,
imaginam esperar qualquer coisa,
e se quedam mudos, escoam-se passo a passo, sentam-se,
últimos servos do negócio, imaginam voltar para casa,
já noite, entre muros apagados, numa suposta cidade, imaginam.
Escuta a pequena hora noturna de compensação, leituras, apelo ao cassino, passeio na praia,
o corpo ao lado do corpo, afinal distendido,
com as calças despido o incômodo pensamento de escravo,
escuta o corpo ranger, enlaçar, refluir,
errar em objetos remotos e, sob eles soterrados sem dor,
confiar-se ao que bem me importa
do sono.

Escuta o horrível emprego do dia
em todos os países de fala humana,
a falsificação das palavras pingando nos jornais,
o mundo irreal dos cartórios onde a propriedade é um bolo com flores,
os bancos triturando suavemente o pescoço do açúcar,
a constelação das formigas e usurários,
a má poesia, o mau romance,
os frágeis que se entregam à proteção do basilisco,
o homem feio, de mortal feiúra,
passeando de bote
num sinistro crepúsculo de sábado.

VI

Nos porões da família
orquídeas e opções
de compra e desquite.
A gravidez elétrica
já não traz delíquios.
Crianças alérgicas
trocam-se; reformam-se.
Há uma implacável
guerra às baratas.
Contam-se histórias
por correspondência.
A mesa reúne
um copo, uma faca,
e a cama devora
tua solidão.
Salva-se a honra
e a herança do gado.

VII

Ou não se salva, e é o mesmo. Há soluções, há bálsamos
para cada hora e dor. Há fortes bálsamos,
dores de classe, de sangrenta fúria
e plácido rosto. E há mínimos
bálsamos, recalcadas dores ignóbeis,
lesões que nenhum governo autoriza,
não obstante doem,
melancolias insubornáveis,
ira, reprovação, desgosto
desse chapéu velho, da rua lodosa, do Estado.
Há o pranto no teatro,
no palco ? no público ? nas poltronas ?
há sobretudo o pranto no teatro,
já tarde, já confuso,
ele embacia as luzes, se engolfa no linóleo,
vai minar nos armazéns, nos becos coloniais onde passeiam ratos noturnos,
vai molhar, na roça madura, o milho ondulante,
e secar ao sol, em poça amarga.
E dentro do pranto minha face trocista,
meu olho que ri e despreza,
minha repugnância total por vosso lirismo deteriorado,
que polui a essência mesma dos diamantes.

VIII

O poeta
declina de toda responsabilidade
na marcha do mundo capitalista
e com suas palavras, intuições, símbolos e outras armas
prometa ajudar
a destruí-lo
como uma pedreira, uma floresta
um verme.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Chega de derrotas
Nenhum direito a menos

                A seleção brasileira de futebol terminou de forma melancólica sua participação na Copa da Fifa. Tendo levado dez gols nos últimos dois jogos, nossa defesa nunca foi tão vazada. Sem time e sem técnico, não tínhamos mesmo como ganhar o hexa. Assim como a seleção, nossa categoria está levando uma goleada da Administração do Tribunal de Justiça. Nunca tivemos tantos direitos suprimidos ao mesmo tempo em que a Magistratura é agraciada com tantas benesses.
                As decisões favoráveis do Tribunal de Justiça aos Governos Cabral/Pezão demonstram até onde vai o entrelaçamento dos poderes para impor derrotas aos servidores. Desde que o julgamento de grevespassou para a competência do Órgão Especial, os trabalhadores têm amargado decisões estapafúrdias determinando a aplicação de multas milionárias aos sindicatos. Também tem sido uma constante o aval do Judiciário às prisões arbitrárias de manifestantes, mas o Habeas Corpus que deixou livre o senhor Raymond Whelan, ex-diretor-executivo da Match Services, empresa ligada à Fifa, serviu-lhe para permanecer por quase uma semana foragido.

O faz de conta da valorização dos servidores

                Até quando o Tribunal de Justiça reajusta um benefício, acaba nos prejudicando. Na recente conversão do pagamento do auxílio-refeição/alimentação para 30 dias corridos, no valor de 825 reais, vimos o valor/dia diminuir para R$ 27,50, enquanto Suas Excelências ganham mais do que o dobro do que é pago ao serventuário.Essa história de dizer que está nos beneficiando, quando na realidade está nos prejudicando, já tinha sido usada no Plano de Incentivo à Aposentadoria.
Nesse plano, diversos servidores se sentiram forçados a se aposentar, como os Escrivães de 2004, sendo estes, literalmente, enganados sobre a possibilidade de incorporarem a gratificação de titularidade, correspondente a 52% dos seus vencimentos, o que está mantido, não sabemos até quando, por força de uma liminar. Não custa nada lembrar que a atual direção do Sindjustiça foi entusiasta desse programa de demissão voluntária disfarçado, inclusive fazendo coro com a Administração do TJ de que isso nos proporcionaria vantagens, como melhores reajustes e convocação de muitos concursados. Nada mais falso.
A mudança da data-base de maio para setembro também foi outra medida que vem nos prejudicando. Não tem garantido reajustes melhores, como anunciava o sindicato quando negociou este direito. Éramos a única categoria a ter data-base em maio. Agora, assistimos todas as demais categorias recebendo seus reajustes neste mês de junho, enquanto teremos que esperar até setembro para termos o nosso. Além de não somarmos força com outras categorias do serviço público estadual, estaremos fadados aos parâmetros desses reajustes.

O perigo de um novo Estatuto

Em 2013, foi formada uma comissão de juízes para discutir um novo estatuto para os serventuários. Além da perda de diversos direitos, poderemos ter uma nefasta avaliação de desempenho para demitir servidores estáveis. Depois do silêncio da direção do sindicato sobre a regulamentação da avaliação de desempenho para os servidores em estágio probatório, e do posicionamento de um coordenador de que isso não passaria de mera regulamentação do que está na Constituição, a direção do Sindjustiça se posiciona agora contra um novo estatuto, pois não seria bom para a categoria requerer novo PCCS da atual administração”.
Ainda assim, precisamos estar vigilantes, pois na aprovação do novo CODJERJ houve uma rebelião entre os desembargadores, na sessão do Tribunal Pleno que o deliberou, pelo exíguo tempo de dois minutos que cada um teve para debater o assunto. Se entre os seus pares houve tanta polêmica, imaginem como nós seríamos tratados. O projeto já se encontra na ALERJ para aprovação, com alguns dispositivos que nos prejudicam, mas não possui mais o capítulo que tratava da reeleição para presidente do TJ, que foi retirado para ser apreciado por uma comissão do regimento interno.
Depois da goleada sofrida pela categoria durante o período da atual gestão do Sindjustiça, tudo o que não queremos é um comportamento ao estilo do técnico Felipão, onde só ele enxergava um bom trabalho quando o quadro não era dos melhores. A mobilização da categoria não pode ser apenas virtual. E isso não se refere apenas à utilização da ferramenta internet.
É preciso politizar o debate, botar o dedo na ferida para que as pessoas saibam quem realmente estamos enfrentando: um poder estruturado para servir aos grandes empresários e aos governos que os representam. Este poder não está do nosso lado nem terá piedade de nós. Portanto, não devemos agir como cordeiros. Dar lição de moral na Administração do Tribunal não fará ela ter uma mudança de postura. O TJ não precisa de conselheiros – já  tem gente muito bem paga para isso. Dar conselhos para a Corte só vai nos fazer passar pelo papel de bobos.

(Publicado no boletim Boca Maldita nº 98, julho/2014, editado pelo Movimento de Oposição Serventuária)