(por: W. B.*)
"Pra matar índio quem chegou de caravela?
Cabral, Cabral, Cabral!
Pra matar pobre quem chegou lá na favela?
Cabral, Cabral, Cabral!"
(música: Cabrais, banda: El Efecto)
Quinta-feira 17/11/16, o ex-governador
do estado do Rio de Janeiro Sérgio Cabral Filho foi preso pela Polícia
Federal, no âmbito da chamada Operação Calicute, que investiga desvio de
recursos públicos federais em obras realizadas no RJ.
Cabral, nascido em 1963, nunca trabalhou
na vida. Esteve metido desde cedo na politicagem partidária como
integrante do governo Moreira Franco, deputado estadual, senador e
governador por dois mandatos. O primeiro destes foi de 2007 a 2010; o
segundo, até 3 de abril de 2014, data em que renunciou em prol de seu
vice Luiz Fernando Pezão.
Muito querido pela mídia burguesa, havia
sido considerado um dos cem brasileiros mais influentes de 2009, pela
Revista Época, publicada pela editora Globo. Criou as Unidades de
Polícia Pacificadora, que militarizaram as favelas, ignorando as
verdadeiras demandas desses locais: saúde, educação, cultura, saneamento
básico etc. As UPPs, no entanto, sempre foram elogiadíssimas pela
imprensa capitalista, que nunca deu voz às organizações populares que
teciam críticas a essas unidades policiais.
Da mesma forma, as Organizações Globo (assim como a revista Veja e congêneres como a Isto É
e outros veículos elitistas) sempre defenderam Sérgio Cabral,
blindando-o de qualquer tipo de crítica. A rede de televisão da família
Marinho, em especial, desqualificou completamente os protestos contra a
Copa da Fifa no Brasil em 2014. Demonizou os manifestantes de 2013 e
2014, que denunciavam as corrupções de Cabral Filho.
Agora o que faz a TV Globo após a prisão
de seu protegido? Simplesmente finge não ter correlação nenhuma com ele
e suas falcatruas. Busca auferir mais lucros através duma cobertura
sensacionalista sobre a captura do ex-governador. Chega e tecer ironias
sobre a situação, na maior desfaçatez, como se não fosse essa emissora
uma das principais bases de sustentação desse político e outros da mesma
laia, como o ex-prefeito do Rio Eduardo Paes e o atual governador do
estado: Luiz Fernando Pezão.
A Globo foi cúmplice de Sérgio Cabral
Filho quando este cometeu um crime ainda mais grave do que aqueles pelos
quais agora é acusado pela Polícia Federal. Foi no caso da demolição do
Hospital Central do IASERJ que ocupava um quarteirão na Praça da Cruz
Vermelha, zona central da capital fluminense. O então governador agiu de
maneira truculenta contra os que protestavam em favor da permanência do
hospital, e a mídia fez uma cobertura tendenciosa contra os
manifestantes. Mas o pior foi o que ocorreu na madrugada do dia 15 de
julho de 2012. Naquele momento, a mando do governador, a polícia do
estado invadiu o hospital e removeu – sem nenhuma autorização médica –
os pacientes internados no CTI. Todos os catorze doentes faleceram.
Cabral carrega esse crime nas costas, com a conivência da Rede Globo de
Televisão, que não deu nenhum destaque à notícia. Para as empresas de
comunicação da família Marinho, a vida não tem nenhum valor: os únicos
valores que importam são os valores financeiros.
A Globo já pediu desculpas publicamente
pelo apoio que deu ao golpe de Estado de 1964 que originou uma sangrenta
ditadura empresarial-militar no Brasil, a qual durou até 1985. Só que a
emissora só se retratou quase cinquenta anos depois do editorial
pró-golpistas publicado em seu jornal. É valida uma desculpa pedida
quase três décadas após o fim daquele regime despótico? Será que a Globo
algum dia irá admitir sua cumplicidade criminosa diante dos
autoritarismos e explorações do governo Sérgio Cabral Filho?
Vale lembrar: desculpas não trarão de
volta nem os mortos da ditadura, nem os mortos do IASERJ. Boicotemos
Cabral! Boicotemos a Rede Globo de Televisão!
* W. B. está sem reajuste salarial desde 2014, sem o 13º salário de 2016 e com risco de diminuição de remuneração a partir do aumento da contribuição previdenciária proposta pelo governador Pezão. Encontra-se em greve. É tecnico de atividade judiciária do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e militante do Movimento Democrático de Luta - MDL.
Nenhum comentário:
Postar um comentário