SEJA BEM-VINDO AO NOSSO BLOGUE!

ATENÇÃO! As matérias aqui publicadas só poderão ser reproduzidas fazendo constar o endereço eletrônico deste blogue. Os textos assinados não necessariamente refletem a opinião do CESTRAJU. " Há pessoas que lutam um dia e são boas. Há outras que lutam um ano e são melhores. Mas há as que lutam toda a vida e são imprescindíveis." "Tudo bem em hesitar...se depois você for em frente ...." (Bertold Brecht) "O melhor da vida é que podemos mudá-la" ( anônimo ) Junte-se a nós! Venha mudá-la para melhor!

sábado, 29 de abril de 2017

UM RELATO DETALHADO DOS ACONTECIMENTOS DE HOJE* NO CENTRO DO RIO (E ALGUMAS CONSIDERAÇÕES)

(Por: Marcos Kalil Filho) 
Cheguei na Alerj por volta das 15h e me reuni com cerca de sete amigos. Havia muitos aposentados, adolescentes, professores, coletivos e famílias. As ruas estavam tomadas da Praça XV até bem depois do TJ. Três carros de som berravam palavras de ordem. Às 16h, o protesto caminharia até a Candelária, onde deveria seguir pela Rio Branco até chegar ao ato principal na Cinelândia.
Era a primeira vez em muito tempo que as manifestações de rua contra as forças conservadoras alcançavam o Centro político. O governo, que vem monitorando as redes sociais, inclusive fora dos termos de uso dessas mesmas plataformas, sabia disso. A repercussão digital, o "buzz", tão importante nos dias atuais, já incomodava aquele cuja popularidade capitula em 4%.
Era também a primeira vez em muito tempo que a figura do trabalhador assumia a centralidade do discurso das ruas. Desde 2013, as pautas identitárias - feminismo, racismo etc - e as moralizantes - corrupção, Lava Jato etc - eram responsáveis pelo maior engajamento e mobilização das massas. Com o avanço das reformas trabalhista e previdenciária, a questão, que sempre esteve no âmago das tensões políticas, se explicitou inarredavelmente. De forma rápida, diversos setores da sociedade se articularam, deixando as diferenças de lado, e foram para a rua assumir sua condição comum de trabalhador.
O risco para o establishment dobrou. A potência do mote político do Trabalho é enorme, pois diz respeito à vida das pessoas, ao tempo delas, a sujeição de seu corpo e de suas expectativas. A resposta, então, não poderia ser diferente. Alguns passos foram dados e as bombas começaram a ser jogadas pela polícia contra uma multidão absolutamente pacífica. Os black blocs sequer estavam por lá. Os estalos eram constantes, desproporcionais, injustos. Vi tudo a poucos metros de mim. Idosos, mães, professores atônitos sem entender. Corremos.
Curiosamente, recebi a informação de um morador da Pinheiro Machado que as bombas também começaram a estourar naquele instante contra o protesto, em frente ao Palácio Guanabara. A operação parecia orquestrada, sugerindo um plano consciente e abrangente de desarticulação das movimentações grevistas.
Eles não iriam permitir nem uma foto para dizer que a greve geral se deu. Parte dos manifestantes, então, se dispersou. Eu e meus colegas fomos pela Rua do Mercado e, eventualmente, chegamos ao CCBB. A trilha sonora das bombas diminuiu, mas não cessou. Olhando pela 1º de Março, o grupo que resistiu aos ataques truculentos da polícia seguia rumo à Candelária emoldurada pela fumaça.
A passeata não parou na Igreja, tomando a Rio Branco logo em seguida. Ali, fomos todos encurralados por muitos policiais. Os corredores de prédios reverberavam as explosões. Pânico e correria. Eu e meus colegas fomos até a Uruguaiana, onde as portas do metrô fechavam abruptamente. A multidão tentava entrar pela abertura que restava. Cena do fim do mundo. Um horror.
Fomos em direção à Cinelândia, acreditando que a presença de políticos e o palco inibiriam a atuação ditatorial da polícia. Até aquele momento, não houve um incidente de intimidação por parte de black blocs ou coisas do tipo. Era uma ação unilateral e planejada do corpo policial. O Caveirão perseguia manifestantes pelo miolo do Centro, atirando balas de borracha. Ao chegar no comício, não demorou muito para as bombas e os tiros empurrarem a multidão para diversas direções. O relógio marcava 17h.
Os policiais vieram em maior número da Senador Dantas pela Alcindo Guanabara, da Rio Branco e uma bomba foi jogada em frente ao Amarelinho, indicando a presença policial também na direção da Praça Mahatma Gandhi, para onde a maioria das pessoas correu. Ali, o ato foi definitivamente sepultado. Os poucos que sobraram resistiram à cavalaria e ao Caveirão entre o MAM e o Catete. Na escuridão e no lamaçal, muitos escorregaram, machucando-se.
Às 18h, voltei para a casa. A violação do "direito de ir e vir", jargão que o senso comum abusara ao longo do dia para atacar os grevistas, ressignificava-se com o novo patamar atingido pela arbitrariedade estatal. Se, anteriormente, as manifestações ocorriam para, em seu final, terminar com a violência policial, o ato da greve geral sequer pôde começar. Os tempos são outros. Nada ficará no caminho do projeto de desmonte da Constituição. Está em andamento o desenho de um pacto social renovado em que não há espaço para dissonâncias.

(* Este texto de autoria de Marcos Kalil Filho se refere aos acontecimentos de sexta-feira 29/04/17 no Rio de Janeiro) 

Nenhum comentário:

Postar um comentário