(Por: W.B.*)
No
dia 1º de Maio de 2020, Dia Internacional da Classe Trabalhadora, um
grupo com cerca de 60 profissionais da saúde fez um protesto em
frente à Praça dos Três Poderes (Brasília-DF). Ato público
silencioso, com manifestantes usando máscaras e respeitando
rigorosamente a distância entre si, e mantendo-se também afastados
de transeuntes.
Suderlan
Sabino, do Sindicato dos Enfermeiros do Distrito Federal e membro da
diretoria da Associação Brasileira de Enfermagem, destacou que, na
realização do protesto, os manifestantes fizeram questão de tomar
várias precauções, pois há orientações das autoridades de saúde
para evitar aglomerações e para não favorecer a eventual
proliferação do coronavírus (covid-19). “Usamos máscaras de
tecidos pra não gastar as máscaras que são usadas pelas equipes
[de saúde] nos serviços, mantivemos um isolamento de 2 metros entre
os colegas e ninguém se cumprimentou, a não ser a distância”,
informou Sabino.
Tais
profissionais, em luta por melhoria da saúde no país, foram
hostilizadas por uma gangue bolsonarista que, criminosamente,
conclama populares a desrespeitarem o isolamento social determinado
pela Organização Mundial da Saúde e toda a comunidade científica
mundial. Pensemos um pouco sobre este triste episódio.
Agressora de profissionais da saúde em 01/05/2020, Brasília |
Vê-se
que o Estado brasileiro é extremamente hipócrita. Pois mesmo
segundo os ditames do próprio Estado democrático de direito
burguês, esses apoiadores de Bolsonaro teriam que ter sido abordados
pela polícia pelo simples fato de estarem transitando por ali sem
máscaras e sem observar nenhum tipo de distanciamento em relação
às outras pessoas. Mas isso não aconteceu. Então essa canalhada
bolsonarista resolveu ousar mais: foi agredir verbalmente
profissionais da saúde que estavam fazendo um protesto perfeitamente
legítimo e responsável. Desta vez pelo menos, essa corja repressora
teria que ter sido presa por estar desrespeitando o direito de
manifestação assegurado pela própria Constituição Federal
brasileira. Mas o que a polícia fez? Nada.
Agressor cujo perfil já foi até identificado por internautas |
Daí,
os patri(di)otas se sentiram confiantes e chegaram ao cúmulo de
cuspir nas profissionais da saúde. Essa conduta já configuraria
crime em qualquer época (seria o tipo penal "injúria real",
pelo menos era qualificado assim na época que estudei legislação).
Mas, no presente caso (que se deu num momento de pandemia), cuspir em
alguém é algo ainda mais grave: é crime contra a saúde pública,
equiparável à tentativa de homicídio. A polícia, então, prendeu
esses genocidas? Não.
É
impressionante o grau de submissão dos policiais a burgueses
bolsonaristas que propagam mentiras, e que até negam a existência
do coronavírus (!). O número de agentes da segurança pública
mortos por covid-19 também é enorme. Quando deixam de conter esses
criminosos antiquarentena, PMs estão favorecendo a morte de seus
próprios colegas. Vale a pena morrer, só para bajular esses
riquinhos desocupados propagadores da pandemia?
Os
bolsonazistas só ficaram afastados do protesto depois de muita
repercussão negativa das agressões que fizeram.
Logo
no dia seguinte ao ocorrido, várias pessoas comuns do povo
denunciaram, pela internete, nomes e perfis supostamente pertencentes
aos agressores. Para processá-los, nem seria preciso alguma
investigação trabalhosa: bastaria uma simples pesquisa nalgum
buscador como o Google. Por que nada é feito? Será que o
Ministério Público e a Polícia Civil também são lambe-botas
desses burgueses bolsonaristas criminosos?
E
a mídia global que gastou 20 minutos dando destaque a Sérgio Moro
depois de sua renúncia ao cargo de ministro da justiça em
abril/2020, quanto tempo usou para falar sobre esse crime dos
bolsonaristas cometido diante das câmaras e bem em frente a um órgão
governamental?
Brasília, 01/05/20 |
Por
acaso a mídia foi entrevistar PMs e comandantes de batalhão para
questionar sobre a omissão policial? Foi tentar identificar os
agressores e questioná-los sobre o crime cometido? Foi entrevistar
juristas para perguntar sobre a ilicitude da conduta de cuspir em
alguém num período de pandemia? Por que não foram buscar pareceres
de gente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e da AJD (Associação
Juízes para a Democracia), por exemplo? A mídia não teria espaço
para isso? Acham mais útil transmitir programas culinários,
telenovelas fúteis e Big Brother Brasil, não é mesmo?
Brasília, 01/05/20 |
Leiamos
a imprensa sindical, comunitária e popular, produzindo também
nossas narrativas! E denunciemos sempre as contradições desse
sistema hipócrita.
FONTES:
-
Reportagem de Amanda Almeida em O
Globo: "Em protesto em Brasília, enfermeiros são
agredidos por apoiadores de Bolsonaro". No endereço seguinte:
-
Matéria da jornalista Cristiane Sampaio no Jornal
Brasil de Fato: "Em silêncio e segurando cruzes,
enfermeiros protestam na porta do Planalto". No endereço
eletrônico:
* W.B. é servidor público do poder judiciário do Estado do Rio de Janeiro e associado do Centro Socialista de Trabalhadoras/es do Judiciário (CESTRAJU).
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