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quinta-feira, 26 de junho de 2014

Você conhece o jornal Transversus?

(por: W.B*)

É difícil entender como tem gente que gasta dinheiro comprando (e tempo lendo) jornais diários e revistas semanais da imprensa capitalista, cheios de mentiras, manipulações, vulgaridade, matérias fúteis e ideias perversas. Basta pensar: que jornal de grande circulação dá pra ler inteirinho com prazer hoje? Pois é, é difícil se lembrar de algum. Mas não há razão para consumir tais lixos, pois existem publicações interessantes e instrutivas por aí. Um exemplo? O jornal carioca Transversus.



O periódico tem formato tabloide, 12 páginas, além de um encarte com temas políticos e sociais chamado Correspondência Socialista (contando mais quatro páginas). Além das salutares opiniões críticas e análises históricas e econômicas (presentes principalmente no encarte), encontram-se, na publicação, matérias sobre os mais variados tópicos. Literatura, samba, futebol, roquenrol, Carnaval, basquete, cinema, boxe, teatro, chorinho – Transversus encara qualquer assunto.
Colaboram na edição pessoas envolvidas com o Centro Cultural Otávio Brandão, Movimento de Oposição Serventuária, Centro de Estudos Socialistas dos Trabalhadores do Judiciário (CESTRAJU) e outras não filiadas a grupos específicos, mas entusiasmadas com a disseminação da cultura e do senso crítico.

Transversus 18
No último número de 2013 – o décimo oitavo – o futebol é o tema mais presente, porém há muito mais que isso.



Na primeira página, uma matéria de Sandoval Brandão trata da chamada “polêmica das biografias”: a controvérsia jurídica que contrapõe liberdade de expressão a direito à intimidade. O artigo ataca corajosamente o assunto, afirmando que o que está ocorrendo hoje no Brasil não é uma tentativa de equacionar dois direitos fundamentais do indivíduo, mas sim uma briga de “cachorros grandes”: dois ramos da indústria cultural e do entretenimento de massas – biografias popularescas X medalhões da música brasileira.
Depois há artigos sobre futebolistas recentemente falecidos: Nílton de Sordi (lateral-direito da Copa de 1958), Liminha (João Crevelim, que jogou pelo Flamengo de 1968 a 1975) e o artilheiro Paulo de Almeida. Há textos sobre os compositores Delcio Carvalho, Arnaldo Antunes, Paulinho Tapajós, Waldir Silva e Victor Jara. Abordam-se também os poetas Vinícius de Moraes e Cruz e Souza, além do escritor Edgard Allan Poe. Temos ainda uma interessante resenha sobre o filme “Bróder”, que enfoca a vida na periferia paulistana.
O jornalista André Luiz David nos brinda, neste número, com uma desconcertante matéria sobre o radicalíssimo pintor e artista performático russo Piotr Pavlenski, que têm feito ações hipercorajosas contra o governo despótico de Vladmir Putin. Mas o teor crítico da publicação não para por aí. Há denúncias de prisão política, no Qatar (de Mohamed al-Ajmi – o poeta Iben al-Dihib) e no Brasil – de Jair Seixas, Eduardo Fauzi e Rafael Braga Nunes, encarcerados por terem protestado em favor dos professores em 15 de outubro/2013, quando estes profissionais da educação ainda estavam em greve no Rio de Janeiro. São denunciadas também opressões aos trabalhadores da FAETEC (Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro).

Além disso, abre-se espaço para duas análises bem discordantes sobre a greve dos professores no Rio. Não há surpresa nisso, os textos políticos do jornal transitam pelo Marxismo, Trotskismo, Luxemburguismo, Anarquismo… Trata-se dum verdadeiro jornal de debates, bem diferente de certas revistas “sindicalistas” (como a Fala Sind-Justiça), que – longe de mostrar democraticamente vozes da classe trabalhadora – só privilegiam a visão da diretoria sindical do momento.

Transversus 19
No primeiro número de 2014, logo de início, o leitor depara com um texto de Sandoval Brandão, criticando a telenovela “Amor à Vida”, que – apesar de mostrar um beijo gay – trouxe em si uma forte carga de reacionarismo.
Há artigos sobre três futebolistas históricos: o moçambicano Eusébio da Silva Ferreira, o carioca Nílton dos Santos (mais conhecido como Nílton Santos) e o uruguaio Pedro Rocha (Pedro Virgílio Rocha Franchetti). O articulista Jalmir Ribeiro apresenta um relato acerca da greve feita pelo Racing Santander, time da terceira divisão na Espanha. Ainda sobre temas futebolísticos, temos uma nota sobre o IV Campeonato de Botões do Centro Cultural Otávio Brandão. Transversus, neste número, volta a criticar a Copa no Brasil: num artigo bastante contundente, denuncia-se que o único legado a ser deixado pela FIFA para o país será mais sofrimento ao povo, afinal já foram sete trabalhadores mortos nas obras da Copa do Mundo.
Indo ao samba, tema frequente do jornal, Jalmir Ribeiro lembra os 30 anos do Sambódromo (a conhecida Marquês de Sapucaí), cuja inauguração impulsionou a lamentável elitização do Carnaval carioca. Claudia Barros, por sua vez, escreve acerca do Bloco do Rabugento, que continua orgulhosamente popular, “sem patrão, dono ou documento”, a circular alegremente pelas ruas do bairro carioca Vila da Penha.
Nesta edição há dois textos da Frente Internacionalista dos Sem-Teto (FIST). Um denunciando atrocidades da ditadura militar e a pouca efetividade da Comissão da Verdade – apontada no artigo como “comissão da meia verdade”. O outro escrito é um chamado de solidariedade ao militante Jair Baiano, perseguido politicamente pelo governo e pela imprensa capitalista.
A “escriba anarquista” Alda Jefb denuncia o nefasto plano de demissão voluntária arquitetado pela Petrobrás, já bastante conhecida pela prática de assédio moral contra suas funcionárias e funcionários. Noutra matéria, Alda volta à carga, desta vez garimpando na imprensa dados indicativos de que o ministro do STF Gilmar Mendes teria sido beneficiário de um mensalão operado pelo PSDB.
Colaboro com os seguintes textos nesta edição: um artigo sobre o espetáculo teatral “Os Mamutes” (peça crítica à sociedade de consumo e à alienação), outro acerca do escritor libertário Lima Barreto, e ainda um terceiro sobre o escritor iconoclasta Antônio Fraga, cujos pais (anarquistas) se conheceram no Segundo Congresso Operário Brasileiro (1913).

Transversus 20
Duas dezenas de números do Transversus nas ruas. Críticas, inconformismo, irreverência... Ainda há muito a se falar e fazer.
Na primeira página, a matéria “Bananas, banalidades e celebridades” aborda discriminação, futebol, hipocrisia e oportunismo de uma elite engajada numa campanha virtual contra o racismo nos estádios: campanha essa que ignora deliberadamente o preconceito racial contra negros e mestiços da classe pobre.
Na página 2, é abordado o surgimento da “Flalmir Albuquerque” – a primeira torcida anticapitalista do mundo, que tem como símbolos: a foice e o martelo na parte vermelha de sua bandeira, e o “A” circulado anarquista na parte preta. A agremiação apresentou seu manifesto fundador em 7 de fevereiro de 2014 no Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (SEPE) no Centro da cidade do Rio, ocasião em que foi lançado o livro “O Assassinato de Almir, O Pernambuquinho: quatro décadas de um crime jamais esquecido”, de Sandoval Brandão e Alex Brasil.
Destacam-se ainda textos sobre: o militante socialista Washington Costa, os escritores João Antônio e Gabriel Garcia Marques, os ícones da música Jair Rodrigues e Paco de Lucia, os atores José Wilker e Paulo Goulart...

Além de matérias assim variadas, a publicação ainda guarda espaço, em seus números, para muito mais. Poemas, contos, crônicas, tudo isso você também encontra no Transversus – um jornal sempre repleto de cultura e consciência crítica, aberto a quem se dispuser a enviar um correio eletrônico para: transversus.cs@gmail.com.



(*W.B. É TÉCNICO DE ATIVIDADE JUDICIÁRIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA-RJ E FAZ PARTE DO MOVIMENTO DE OPOSIÇÃO SERVENTUÁRIA)

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