(por: W.B*)
É difícil entender como tem gente que gasta dinheiro
comprando (e tempo lendo) jornais diários e revistas semanais da imprensa
capitalista, cheios de mentiras, manipulações, vulgaridade, matérias fúteis e
ideias perversas. Basta pensar: que jornal de grande circulação dá pra ler
inteirinho com prazer hoje? Pois é, é difícil se lembrar de algum. Mas não há
razão para consumir tais lixos, pois existem publicações interessantes e
instrutivas por aí. Um exemplo? O jornal carioca Transversus.
O periódico tem formato tabloide, 12 páginas, além de
um encarte com temas políticos e sociais chamado Correspondência Socialista (contando mais quatro páginas). Além das
salutares opiniões críticas e análises históricas e econômicas (presentes
principalmente no encarte), encontram-se, na publicação, matérias sobre os mais
variados tópicos. Literatura, samba, futebol, roquenrol, Carnaval, basquete,
cinema, boxe, teatro, chorinho – Transversus
encara qualquer assunto.
Colaboram na edição pessoas envolvidas com o Centro
Cultural Otávio Brandão, Movimento de Oposição Serventuária, Centro de Estudos
Socialistas dos Trabalhadores do Judiciário (CESTRAJU) e outras não filiadas a
grupos específicos, mas entusiasmadas com a disseminação da cultura e do senso
crítico.
Transversus
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No último número de 2013 – o décimo oitavo – o futebol
é o tema mais presente, porém há muito mais que isso.
Na primeira página, uma matéria de Sandoval Brandão trata da chamada “polêmica das biografias”: a controvérsia jurídica que contrapõe liberdade de expressão a direito à intimidade. O artigo ataca corajosamente o assunto, afirmando que o que está ocorrendo hoje no Brasil não é uma tentativa de equacionar dois direitos fundamentais do indivíduo, mas sim uma briga de “cachorros grandes”: dois ramos da indústria cultural e do entretenimento de massas – biografias popularescas X medalhões da música brasileira.
Na primeira página, uma matéria de Sandoval Brandão trata da chamada “polêmica das biografias”: a controvérsia jurídica que contrapõe liberdade de expressão a direito à intimidade. O artigo ataca corajosamente o assunto, afirmando que o que está ocorrendo hoje no Brasil não é uma tentativa de equacionar dois direitos fundamentais do indivíduo, mas sim uma briga de “cachorros grandes”: dois ramos da indústria cultural e do entretenimento de massas – biografias popularescas X medalhões da música brasileira.
Depois há artigos sobre futebolistas recentemente
falecidos: Nílton de Sordi (lateral-direito da Copa de 1958), Liminha (João
Crevelim, que jogou pelo Flamengo de 1968 a 1975) e o artilheiro Paulo de
Almeida. Há textos sobre os compositores Delcio Carvalho, Arnaldo Antunes,
Paulinho Tapajós, Waldir Silva e Victor Jara. Abordam-se também os poetas
Vinícius de Moraes e Cruz e Souza, além do escritor Edgard Allan Poe. Temos
ainda uma interessante resenha sobre o filme “Bróder”, que enfoca a vida na
periferia paulistana.
O jornalista André Luiz David nos brinda, neste
número, com uma desconcertante matéria sobre o radicalíssimo pintor e artista
performático russo Piotr Pavlenski, que têm feito ações hipercorajosas contra o
governo despótico de Vladmir Putin. Mas o teor crítico da publicação não para
por aí. Há denúncias de prisão política, no Qatar (de Mohamed al-Ajmi – o poeta
Iben al-Dihib) e no Brasil – de Jair Seixas, Eduardo Fauzi e Rafael Braga
Nunes, encarcerados por terem protestado em favor dos professores em 15 de
outubro/2013, quando estes profissionais da educação ainda estavam em greve no
Rio de Janeiro. São denunciadas também opressões aos trabalhadores da FAETEC
(Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro).
Além disso, abre-se espaço para duas análises bem
discordantes sobre a greve dos professores no Rio. Não há surpresa nisso, os
textos políticos do jornal transitam pelo Marxismo, Trotskismo, Luxemburguismo,
Anarquismo… Trata-se dum verdadeiro jornal de debates, bem diferente de certas
revistas “sindicalistas” (como a Fala
Sind-Justiça), que – longe de mostrar democraticamente vozes da classe
trabalhadora – só privilegiam a visão da diretoria sindical do momento.
Transversus
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No primeiro número de 2014, logo de início, o leitor
depara com um texto de Sandoval Brandão, criticando a telenovela “Amor à Vida”,
que – apesar de mostrar um beijo gay – trouxe em si uma forte carga de
reacionarismo.
Há artigos sobre três futebolistas históricos: o
moçambicano Eusébio da Silva Ferreira, o carioca Nílton dos Santos (mais
conhecido como Nílton Santos) e o uruguaio Pedro Rocha (Pedro Virgílio Rocha
Franchetti). O articulista Jalmir Ribeiro apresenta um relato acerca da greve
feita pelo Racing Santander, time da terceira divisão na Espanha. Ainda sobre
temas futebolísticos, temos uma nota sobre o IV Campeonato de Botões do Centro
Cultural Otávio Brandão. Transversus,
neste número, volta a criticar a Copa no Brasil: num artigo bastante
contundente, denuncia-se que o único legado a ser deixado pela FIFA para o país
será mais sofrimento ao povo, afinal já foram sete trabalhadores mortos nas
obras da Copa do Mundo.
Indo ao samba, tema frequente do jornal, Jalmir
Ribeiro lembra os 30 anos do Sambódromo (a conhecida Marquês de Sapucaí), cuja
inauguração impulsionou a lamentável elitização do Carnaval carioca. Claudia
Barros, por sua vez, escreve acerca do Bloco do Rabugento, que continua
orgulhosamente popular, “sem patrão, dono ou documento”, a circular alegremente
pelas ruas do bairro carioca Vila da Penha.
Nesta edição há dois textos da Frente
Internacionalista dos Sem-Teto (FIST). Um denunciando atrocidades da ditadura
militar e a pouca efetividade da Comissão da Verdade – apontada no artigo como
“comissão da meia verdade”. O outro escrito é um chamado de solidariedade ao
militante Jair Baiano, perseguido politicamente pelo governo e pela imprensa
capitalista.
A “escriba anarquista” Alda Jefb denuncia o nefasto
plano de demissão voluntária arquitetado pela Petrobrás, já bastante conhecida
pela prática de assédio moral contra suas funcionárias e funcionários. Noutra
matéria, Alda volta à carga, desta vez garimpando na imprensa dados indicativos
de que o ministro do STF Gilmar Mendes teria sido beneficiário de um mensalão
operado pelo PSDB.
Colaboro com os seguintes textos nesta edição: um
artigo sobre o espetáculo teatral “Os Mamutes” (peça crítica à sociedade de
consumo e à alienação), outro acerca do escritor libertário Lima Barreto, e
ainda um terceiro sobre o escritor iconoclasta Antônio Fraga, cujos pais
(anarquistas) se conheceram no Segundo Congresso Operário Brasileiro (1913).
Transversus
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Duas dezenas de números do Transversus nas ruas.
Críticas, inconformismo, irreverência... Ainda há muito a se falar e fazer.
Na primeira página, a matéria “Bananas, banalidades e
celebridades” aborda discriminação, futebol, hipocrisia e oportunismo de uma
elite engajada numa campanha virtual contra o racismo nos estádios: campanha
essa que ignora deliberadamente o preconceito racial contra negros e mestiços
da classe pobre.
Na página 2, é abordado o surgimento da “Flalmir
Albuquerque” – a primeira torcida anticapitalista do mundo, que tem como
símbolos: a foice e o martelo na parte vermelha de sua bandeira, e o “A”
circulado anarquista na parte preta. A agremiação apresentou seu manifesto fundador
em 7 de fevereiro de 2014 no Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação
(SEPE) no Centro da cidade do Rio, ocasião em que foi lançado o livro “O
Assassinato de Almir, O Pernambuquinho: quatro décadas de um crime jamais
esquecido”, de Sandoval Brandão e Alex Brasil.
Destacam-se ainda textos sobre: o militante socialista
Washington Costa, os escritores João Antônio e Gabriel Garcia Marques, os ícones
da música Jair Rodrigues e Paco de Lucia, os atores José Wilker e Paulo Goulart...
Além de matérias assim variadas, a publicação ainda
guarda espaço, em seus números, para muito mais. Poemas, contos, crônicas, tudo
isso você também encontra no Transversus
– um jornal sempre repleto de cultura e consciência crítica, aberto a quem se
dispuser a enviar um correio eletrônico para: transversus.cs@gmail.com.
(*W.B. É TÉCNICO DE ATIVIDADE JUDICIÁRIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA-RJ E FAZ PARTE DO MOVIMENTO DE OPOSIÇÃO SERVENTUÁRIA)
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