Independente
do resultado das assembleias, a categoria dos serventuários da justiça
terá um desfecho melancólico com a greve iniciada em 26 de outubro
passado. Sem nada conquistar, ainda teremos servidores punidos com
remoções, salários zerados, PADs já foram abertos e, uma novidade, a
exigência de compensação dos dias parados para o abono do ponto - algo
nunca antes imaginado.
Pra
não dizer que foi tudo ruim, conseguimos impor uma derrota ao governo
Pezão, junto com os outros servidores do Estado, ao termos conseguido o
arquivamento do pacote de maldades no mês de dezembro. Essa vitória
ainda não está consolidada, pois o governo anuncia a volta do pacote, e
com reforço extra - a cumplicidade do STF. Ou seja, temos que nos
preparar para novas lutas em 2017.
Quando
o Órgão Especial arquivou a pauta interna deveria ter sido chamada de
imediato uma assembleia para a categoria deliberar sobre uma nova pauta,
estratégias, etc. Mas o pior ainda estava por vir: a decisão unilateral
em suspender a greve sem consulta aos servidores! Aí a greve começou a
desandar. Não só pela insegurança que trouxe aos grevistas, mas pelo
método autoritário de condução da greve. Os textões nos grupos de
facebook e whtasapp passaram a dar o norte do movimento ignorando
qualquer manifestação da base.
Nenhuma
categoria faz uma greve tão longa sem assembleias regulares, sem
avaliações, sem discussões onde vão se formando os consensos e todos
participam. Quantos somos em greve? Pedir uma assembleia virou pecado.
Ser de oposição virou um crime. Críticas nem pensar. Quem não bate
palmas para os textões é taxado de inimigo, no melhor estilo hitlerista.
DERROTA ECONÔMICA
Amargamos
dois anos sem reajuste. E caminhamos a passos largos para o terceiro.
Receber em dia virou sinônimo de privilégio. Os aposentados não têm o
devido respeito do Tribunal e as pensionistas dos servidores - as dos
magistrados estão garantidas - estão na fila para receber os seus
proventos.
O
Tribunal mantém a política de "dois pesos, duas medidas" para
servidores e magistrados. Somos cidadãos de segunda classe na família
judiciário. Para os servidores é muito trabalho, muito assédio e parcos
benefícios. Para a magistratura é água mineral, cafezinho e um itoken
mágico. Eles ficam com o bolo e nós com as migalhas.
DERROTA POLÍTICA
A
política de conciliação de classes que levou o Sindjustiça a receber em
sua sede o Presidente do Tribunal foi fragorosamente derrotada. Depois
dos elogios rasgados ao presidente bonzinho, a direção do sindicato não é
nem mais recebida por ele. O patrão que frequenta a casa do empregado é
algo impressionante. Parte da categoria ainda foi induzida a crer
nisso.
O
fim da democracia no sindicato é outra grande derrota para a categoria.
Não há espaço para discussão nem durante uma greve! A política é de
eliminação de qualquer pensamento divergente. No site, as críticas
recebem notas agressivas duas vezes maiores em tamanho. Nas redes
sociais, os textões são sempre utilizados como autopromoção.
Hoje,
o Sindjustiça flerta com o fascismo. Várias vezes subiram ao carro de
som para dizer que partidos políticos não são bem-vindos nas
manifestações do MUSPE. Sobre as bandeiras pedindo intervenção militar
nenhuma palavra. Dizem ser apartidários mas são candidatíssimos em 2018.
Partidos que tradicionalmente apoiam as lutas dos trabalhadores talvez
lhes façam concorrência.
A
direção do sindicato tem que ter a humildade para reconhecer a derrota e
aprender a valorizar todos aqueles que lutam dentro da categoria,
inclusive os que lhe fazem oposição. Uma greve encarniçada, na atual
conjuntura, não pode prescindir de ninguém. Temos que reconhecer o
esforço de todos. Parabenizo a todos os lutadores e lutadoras da
categoria, mesmo os que já se retiraram da luta por não concordarem com
os rumos do movimento.
Ao
final da greve temos que repensar que sindicato queremos: um sindicato
plural ou um sindicato de um só líder; um sindicato democrático ou um
sindicato que flerta com o fascismo; um sindicato que agregue ou um
sindicato que exclui. Cabem todos os lutadores no sindicato? Ou só os
que concordam com a direção? Uma greve pode ser suspensa
unilateralmente? São essas as reflexões que todos precisam fazer.
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