As greves dos pais de Pateta, Popeye e outros
Você sabia que os criadores do Pateta e do Papa-Léguas eram sindicalistas? Ou que os desenhistas de Popeye fizeram uma greve que contou com apoio de trabalhadores portuários? Pois é. Leia abaixo um resumo do artigo de John Newsinger para o “Internacional Socialism Journal”, nº 114.
Em 27 de maio de 1941, um dos melhores desenhistas de Walt Disney, Art Babbitt, criador do Pateta, fui expulso do estúdio por guardas de segurança. Tinha sido demitido por suas atividades como sindicalista. No dia seguinte quase 400 desenhistas, da Liga de Cartunistas para Cinema, entraram em greve. A luta foi dura. Houve uma vez em que Babbitt e Disney chegaram a trocar alguns socos num piquete, antes de serem separados. Nos piquetes havia cartazes com o desenho do Pluto e os dizeres “Prefiro ser um cão, do que ser fura-greve”. Todas as quartas-feiras, os desenhistas do estúdio da Warners, que ficava próximo e cujos trabalhadores haviam conquistado o direito de ser organizarem em sindicatos depois de uma paralisação de seis dias no ano anterior, caminhavam até o piquete da Disney para prestar solidariedade. Liderados por Chuck Jones, criador do Papa-Léguas (bip, bip!), eles iam vestidos como revolucionários franceses, carregando uma faixa onde se lia “Liberté, fraternité, closed‑shoppité”, um trocadilho difícil de traduzir, mas seria algo como “Liberdade, fraternidade, estúdio-fechado”.
Disney acabou tendo que ceder e os grevistas voltaram ao trabalho vitoriosos em 21 de setembro. Os salários mais que dobraram. Embora Disney tenha sido obrigado a reconhecer o sindicato, ele nunca perdoou os líderes da greve. Muito tempo depois da morte de Disney, Art Babbitt foi convidado para uma palestra no Instituto de Artes da Califórnia, em 1974. A Disney Corporation ameaçou retirar sua contribuição financeira para a instituição, se o convite não fosse cancelado.
A greve da Disney completou a sindicalização da indústria de animação dos Estados Unidos, mas a luta vinha de longe. Em maio de 1937, desenhistas do estúdio Fleischer de Nova York (que produzia Betty Boop e Popeye) fizeram uma greve dura. Várias vezes os grevistas ocuparam o saguão do cinema Paramount na Times Square cantando “Eu sou o grevista Popeye!”. O piquetes eram constantemente reforçados por trabalhadores portuários. Finalmente, em setembro, a empresa cedeu, reconhecendo o direito à sindicalização, 20% de aumento salarial, diminuição da jornada de trabalho, auxílio-saúde e feriados remunerados. Tanto os casos de Fleischer como de Disney fazem parte de uma grande revolta dos trabalhadores que varreu a indústria americana entre o final dos anos 1930 e durante a década de 1940.
Estes e outros casos estão no maravilhoso livro “Drawing the Line” (“Traçando a linha”), de Tom Sito, que conta a história da luta pela sindicalização dos desenhistas nos Estados Unidos. Sendo sindicalista e desenhista, Sito fala, por exemplo, que quando começou a trabalhar acreditou na idéia de que se você tem talento não precisa de um sindicato para lutar por seus interesses. É por isso que na série “Os Simpsons”, enquanto todos os trabalhadores das várias áreas da produção eram sindicalizados, os 400 desenhistas do estúdio permaneceram desorganizados até 2004, quando a produção já tinha 15 anos. Os desenhistas preferiam ser leais a seu diretor “moderninho, que usava um brinco na orelha e uma camiseta escrito ‘Salvem as baleias’”. Não viam que quem realmente dava as cartas era ninguém menos do que Rupert Murdoch.
Agora, o grande desafio são as Imagens Geradas por Computador (IGC). Uma tecnologia que coloca novos desafios e perigos para os sindicatos de desenhistas. O próprio Sito está envolvido nesse debate. As IGC são efeitos especiais ou animações?
Como ele diz “Ou os sindicatos crescem e dão respostas, ou morrem”.
Leia a íntegra do artigo em http://www.isj.org.uk/index.php4?id=316&issue=114
Maio de 2007
FONTE: MIDIA VIGIADA
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