USP: Não cabem em nossas lentes
No dia 20 de junho, uma quinta-feira, milhares de estudantes, funcionários e professores das universidades estaduais de São Paulo (USP, Unesp e Unicamp, além do Centro Paula Souza) foram às ruas exigir a retirada das tropas da Polícia Militar do campus da USP, a renúncia da reitora Suely Vilela e a extinção da Universidade Virtual do Estado de São Paulo, um projeto de ensino à distância mal-feito e eleitoreiro do governador José Serra. Foi a maior manifestação do ano, fruto de uma luta que é travada há meses. Fotógrafos que a cobriam diziam, impressionados, que ela não cabia em suas lentes. A surpresa dos jornalistas de diversas origens ali presentes é sintoma de um problema maior: a lente da grande mídia que, quando não pode mais ignorar os milhares nas ruas, distorce os movimentos sociais para que caibam em sua linha editorial falsamente imparcial.
O movimento estudantil, de funcionários e professores cresceu gradativamente na USP durante o ano. Já no final de abril, os estudantes ocuparam a sede do DCE (tomada pela reitoria em 2007). Pouco antes, os funcionários haviam deflagrado greve exigindo reajuste salarial, a efetivação de milhares de trabalhadores com o emprego ameaçado e a reintegração de Claudionor Brandão, sindicalista demitido ilegalmente no fim de 2008. A reitoria não se mostrou disposta a negociar e, em um ato de radicalização, colocou a PM dentro da USP pela primeira vez em 30 anos para reprimir trabalhadores e estudantes. Em resposta, estudantes e professores se declararam em greve. O autoritarismo da reitora os levou a começar uma forte campanha pelas eleições diretas para o cargo, reivindicação histórica da comunidade universitária.
A grande mídia, no entanto, só começou a dar a devida atenção ao movimento quando, no dia 9 de junho, a repressão foi longe demais. Após o fim de um ato pacífico em frente ao portão da USP, a tropa de choque invadiu a universidade e atacou estudantes com bombas e balas de borracha em uma ação absolutamente inexplicável. Os manifestantes foram perseguidos por um longo percurso sob ataque constante que durou mais de uma hora. Tudo isso foi transmitido, ao vivo, para todo o Brasil. A cobertura, como era de se esperar, foi absolutamente parcial. Mentiras, informações ambíguas, comentaristas sem o menor conhecimento do que acontecia. Tudo isso foi utilizado para deslegitimar o movimento. Mais um capítulo na crescente história de criminalização dos movimentos sociais, da cidade e do campo.
A luta pelas pautas dos movimentos sociais não pode estar separada da luta radical pela democracia. Assim, a USP começa a perceber que sua luta só será vitoriosa se conseguir aliar esses dois elementos, e pautas como diretas para reitor e a exigência de um processo estatuinte que democratize a universidade ressurgem como reivindicações centrais do movimento. É preciso, no entanto, repensar a relação da universidade e dos movimentos sociais com a sociedade. A democratização dos meios de comunicação é uma luta comum de todos os que querem uma sociedade mais justa, e deve ser preocupação fundamental de todos aqueles que estão na linha de frente do combate à criminalização dos movimentos sociais.
Os acontecimentos na USP se tornaram um símbolo da luta contra a repressão e a manifestação ocorrida em 20 de junho foi um marco para o movimento, que foi às ruas mostrar a sua versão dos fatos para a cidade de São Paulo. Seus recursos, no entanto, são incomparavelmente menores do que os de seus opositores. Apenas a unidade e a solidariedade dos que travam a mesma luta, ao lado dos trabalhadores e dos oprimidos, pode mudar a balança e abalar governos autoritários, burocracias cooptadas e a mídia capitalista. Que a USP se torne um centro irradiador dessa luta e território livre de manifestação de estudantes, trabalhadores e dos movimentos sociais!
Ricardo Framil Filho
FONTE: REVOLUTAS
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