Depois
de investigações da Polícia Civil, a médica que chefiava a UTI do
Hospital Evangélico, o maior hospital privado do Paraná, foi presa,
suspeita de forçar a morte de pacientes que estavam internados na
unidade, especialmente quando se tratavam de usuários do SUS, para
economizar recursos do Hospital.
Falta de pagamento de médicos e outros
profissionais, paralisações, dívidas e incapacidade de gerir unidades de
saúde. A prisão da chefe da UTI é, até agora, o auge de uma crise que
vem colocando o Evangélico frequentemente nas páginas de notícia.
Segundo relatos de trabalhadores que não
querem se identificar, a médica presa teria criado até um código, SPP,
sigla de “se parar parou”, que indicava o desligamento de alguns
aparelhos ou a não intervenção no caso de uma parada cardíaca, por
exemplo. Por outro lado, parentes de pacientes que saíram vivos da UTI
relatam a qualidade do atendimento que receberam por parte da médica que
agora se encontra presa.
A direção do Hospital vem se esquivando
das acusações, colocando que a chefe da UTI é a “chefe da UTI” e que o
Hospital é “o Hospital”.
Esse caso, se confirmado, será uma
inédita “eutanásia do capital”, em que pessoas são mortas devido a
economia de recursos de um hospital privado. Não é a discussão,
legítima, sobre o direito a eutanásia, que é, por exemplo, uma prática
permitida na Holanda. É a “simples” economia de recursos. O termo
correto, conforme a própria Polícia vem afirmando, nem é eutanásia,
visto que nem todos os pacientes que morreram estavam em estado
terminal.
Indo além das aparências…
Os serviços de saúde no Brasil vivem uma
crise permanente. Grande parte desta crise está relacionada a falta de
recursos para a saúde pública. Os governos investem pouco na área e a
maior parte dos poucos investimentos vai para setores privados da saúde,
como no caso do Hospital Evangélico, que atende quase que 100% pelo
SUS.
Neste cenário, os Hospitais e
estabelecimentos de saúde tem cada dia mais se adaptado a esta falta de
recursos. Os profissionais da saúde vivem a todo momento sob a égide da
“economia de recursos”. Na assistência, há procedimentos sendo
alterados para que se adaptem a falta de alguns materiais. Na área
administrativa, chega a faltar caneta esferográfica e papel toalha.
Portanto, a situação denunciada no
Hospital Evangélico é “apenas” a radicalização da lógica de economia a
qualquer custo que é hegemônica hoje na saúde no Brasil, especialmente
nos grandes Hospitais. Em menor intensidade, ações como a da médica do
Evangélico acontecem todos os dias: na indicação de um remédio mais
barato visto que o SUS não cobre o mais moderno e menos danoso ao
organismo, a não realização de um exame diagnóstico pela falta de vagas
ou pela falta de um plano de saúde, entre outros exemplos.
Esta situação extrema mostra, mais uma
vez, que saúde não combina com mercado e que deve ser garantida a todos e
todas, como um direito inalienável.
Biografia
Bernardo Pilotto é assistente administrativo do HC/UFPR e diretor-licenciado do SINDITEST/PR. É sociólogo formado pela UFPR e atualmente faz mestrado em Saúde Coletiva na Unifesp. Começou sua militância política no movimento estudantil da UFPR, onde foi diretor do DCE/UFPR por duas vezes e membro do Conselho Universitário. Em 2006, entrou no HC/UFPR como assistente administrativo e sempre participou dos movimentos de luta da categoria, sendo representante dos técnicos-administrativos no COUN/UFPR de 2009 a 2011.
Foi fundador do PSOL – Partido Socialismo e Liberdade em 2004 e já fez parte de diversas instâncias do partido, em nível municipal, estadual e nacional.
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