14 JANEIRO 2013
CLASSIFICADO EM BRASIL - PRIVATIZAÇÃO
CLASSIFICADO EM BRASIL - PRIVATIZAÇÃO
JB | |
Henrique de Almeida e Renan Almeida*
Jornal do Brasil
Por terem dado apoio, no sábado, à manifestação em favor da permanência da Aldeia Maracanã no prédio do antigo Museu do Índio, os carpinteiros José Antonio dos Santos, 47, e Francisco de Souza Batista, 33, acabaram demitidos dos empregos, na manhã desta segunda-feira (14), pela empresa Concrejato, que participa da reforma do Estádio do Maracanã.
Os
dois trabalharam no turno da manhã no sábado, dia em que a aldeia
amanheceu cercada por soldados do Batalhão de Choque o que provocou uma
grande movimentação emsolidariedade aos índios.
Não acho legal destruir um monumento como este só para fazer nome oudinheiro.
O
apoio dos carpinteiros ao movimento ocorreu no horário de almoço,
quando eles decidiram ir à aldeia, pulando o muro da mesma, uma vez que o
portão estava interditado pelos soldados do Batalhão de Choque.
“Vão derrubar um patrimônio cultural,
além de deixar desamparadas as pessoas que ali estão. Eu não concordo”,
defendeu José Antônio. Segundo Francisco, vários colegas pensam como
eles mas têm medo de se manifestarem.
"Como
cidadão, não acho que Cabral esteja fazendo um bom governo. Não acho
legal destruir um monumento como este só para fazer nome ou dinheiro.
Acho que isto é uma coisa com a qual ninguém pode concordar", disse
Francisco. Francisco de Souza e José Antonio dos Santos foram
dispensados das obras nesta segunda-feira
Ao
retornarem à obra, tiveram seus crachás recolhidos por um funcionário
do Consórcio Maracanã , formado pelas construtoras Andrade Gutierrez e
Odebraecht que recomendou que eles voltassem apenas na segunda-feira
quando definiriam a situação de ambos.
“Quando eles tomam o crachá, em 99% dos casos o trabalhador é dispensado”, antecipou Francisco no sábado.
Pulamos o muro porque quisemos. Sou um homem de caráter e temos que honrar nossa cultura
Nesta
segunda-feira (14), em uma nítida perseguição política, os dois
receberam três papéis. Em um havia uma advertência, o segundo continha
uma demissão por justa causa e o terceiro seria a possibilidade de serem
transferidos de canteiro de obra. Os dois não aceitaram assinar nenhum
deles. Restou-lhe a demissão com seus direitos preservados.
José Antonio estava há cinco meses na obra. Francisco já totalizava 17 meses de trabalho.
Nenhum dos dois, até então, havia tido qualquer problema disciplinar ou
de falta. Jamais foram advertidos. "Sou um trabalhador que me dou bem
com todo mundo. Chego cedo, se precisar saio mais tarde. Jamais fui
advertido", esclarece Francisco.
“Disseram
que o consórcio não queria mais a gente aqui no Maracanã. Queriam nos
transferir, mas seria muito ruim para nós, então concordamos em ser
dispensados”, contou José Antonio.
Apoio da aldeia aos operários
Ao
serem informados da demissão dos operários, os indígenas deram total
apoio aos dois. Quando chegaram à aldeia após serem demitidos, as palmas
se misturaram a gritos de apoio em diferentes dialetos indígenas. Um
discurso foi feito por Marize de Oliveira, uma das líderes indígena, que
conclamou o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil a apoiar os operários.
Francisco, ao receber um cocar na cabeça como forma de agradecimento, explicou o que havia acontecido aos presentes.
"Pulamos
o muro porque quisemos. Sou um homem de caráter e temos que honrar
nossa cultura", disse ele, sob aplausos entusiasmados de uma comunidade
em estado de tensão por causa da possibilidade iminente de serem
expulsos do antigo Museu do Índio, lar da Aldeia Maracanã.
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