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sábado, 5 de maio de 2012

O restaurante onde ditadura e artistas se misturavam

Matéria retirada do portal IG notícias

Dono do Angu do Gomes, no Rio, confirma encontros de coronéis de linha dura rodeados por celebridades

Tales Faria e Adriano Ceolin, iG Brasília |
Foto: Arquivo pessoal Basílio, com o seu neto, Rigo, responsável pelo Angu do Gomes atualmente
No livro “Memórias de uma Guerra Suja”, o ex-delegado da Polícia Civil do Espírito Santo Cláudio Guerra afirma que o restaurante tradicional carioca Angu do Gomes serviu de “fachada” para atividades de coronéis linha dura do regime militar no fim dos anos 70 e começo dos anos 80. O local era frequentado por atores e celebridades.
“O restaurante, inaugurado em 1977 pelo português Basílio Pinto Moreira e por João Gomes, era associado a uma sauna e foi fachada para as nossas atividades, misturando agentes da comunidade de informações”, conta Guerra, que concedeu uma série de depoimentos aos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros para a produção do livro. O iG conseguiu, com exclusividade, antecipar detalhes sobre da obra.
Na sexta-feira (4), a reportagem do portal localizou Basílio Moreira no Angu do Gomes. O restaurante foi reinaugurado em dezembro de 2008 e é atualmente administrado pelo neto de Basílio, Rigo Duarte. Por telefone, Basílio Moreira confirmou que Cláudio Guerra participava de reuniões com coronéis no local. Entre eles, o coronel Freddie Perdigão, do DOI-CODI.
“O Claudinho não saía daqui, rapaz! Vi que ele deu uma entrevista e muitas coisas que disse são verdade”, disse Basílio Moreira, que está 82 anos. “Tinha o Cláudio, o Freddie Perdigão (...) Era uns 10 coronéis. Se reuniam aqui. Nunca me interessei na conversa deles, que era de militar para militar. Então eu me afastava. Não tenho nada que falar deles”, completou.
No livro, Cláudio Guerra afirma que, no Angu do Gomes, os coronéis conspiravam contra adversários do regime militar. “Foram planejados assassinatos comuns e com motivações políticas, e discutimos vários atentados a bomba que tinham como objetivo incriminar a esquerda e dificultar, ou impedir, a redemocratização”, afirma o ex-delegado.
Sauna e artistas
Ainda no livro, Guerra afirma que anexo ao restaurante funcionava uma sauna com garotas de programa. “Tinha strip-tease, e passou a ser frequentada também por artistas, policiais, militares e figurões da época. Lembro-me direitinho: a gente descia o sobrado do Angu do Gomes, virava à esquerda e entrava na sauna”, conta o ex-delegado.
Basílio Moreira também lembra da sauna e diz que o seu irmão, ex-policial federal Augusto Pinto Moreira, era dono do estabelicimento. Ele, porém, não se lembra que Guerra também tinha participação no negócio, como conta o ex-delegado no livro. Moreira confirma os nomes de artistas que frequentavam o local e que foram citados por Guerra.
Entre os citados, estão o ator Lúcio Mauro e o executivo de TV José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. “Lúcio é meu amigo de infância. Eu conheço ele através do meu irmão, que era muito amigo do Chico Anysio”, afirmou Moreira. “O Boni é malandro, inteligente. Não sei o que falava com os militares", desconversou.
No livro, Guerra afirma que os atores Jece Valadão e Carlos Imperial, que também foi compositor e produtor de discos, também eram frequentadores do local. "Este (Imperial) era muito amigo do Augusto Pinto Moreira (irmão de Basílio e dono da sauna que funcionava ao lado do restaurante)", relata.
O ex-delegado de Polícia também cita no livro que Ciro Batelli, ex-vice-presidente da rede de hotéis-cassino Caesar Palace, era frequentador do Angu do Gomes. "Ciro era de direita e participava das reuniões do Angu do Gomes e da sauna. Ele fazia lobby para legalizar cassinos", afirma Guerra.

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