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domingo, 25 de maio de 2014

Bloco da Ceguinha muito vivo, apesar dos pesares

Na quarta-feira 06/02/13 às 18h ocorreu a primeira edição do Bloco da Ceguinha sem o apoio do Sind-justiça. O bloco foi puxado pelo então recém-fundado CESTRAJU (Centro de Estudos Socialistas dos Trabalhadores do Judiciário), que reúne majoritariamente um pessoal ligado ao MOS (Movimento de Oposição Serventuária). Mas a participação se estendeu a diversos lutadores da categoria e até de fora dela.  Na ocasião estiveram presentes, à atividade, militantes sociais diversos: companheiro da direção do SINDSCOPE (Sindcato de Professores do Colégio Pedro II), integrantes do grupo de base Inimigos do Rei (trabalhadores da Petrobrás), membro do Instituto Histórico da Baixada de Jacarepaguá, além de gente da própria categoria de servidores de judiciário, claro. Mas por que a atual direção sindical abandonou o bloco?
Lamentavelmente a diretoria que temos hoje em nosso importante Sind-justiça extinguiu oficialmente o Bloco da Ceguinha, provavelmente para não ferir “suscetibilidades” de juízes, desembargadores e supostamente “atrapalhar” negociações com a Presidência do Tribunal. Porém trabalhadoras e trabalhadores, independentes da gestão atual do sindicato, conseguiram se articular e “ressuscitar a ceguinha”
O tradicional bloco se reúne em frente ao Fórum Central do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, no centro da capital fluminense (Av. Erasmo Braga, 115). Além de confraternização, trata-se também duma forma bem humorada de protestar contra a opressão do tribunal sobre os trabalhadores.
O TJ nega uma série de direitos a seus servidores, mas dá privilégios aos montes a juízes e desembargadores: supersalários já amplamente divulgados pela mídia, muito acima do teto remuneratório estabelecido pela constituição; auxílio-refeição, apelidado auxílio-glutão etc.
O TJ contratou a empresa Locanty, acusada de corrupção, para lhe prestar serviço. Da mesma forma ele fez em relação à já conhecida Delta, que construiu vários prédios do judiciário fluminense, um dos quais tremeu à beça já em 2012, deixando servidores apavorados.
Como se vê, não faltam assuntos a serem abordados nos enredos e motivos para que o evento continue acontecendo. Assim, na quarta-feira 26 de fevereiro deste 2014, voltou a se concentrar o Bloco da Ceguinha.

O bloco – cujo nome é uma referência jocosa à deusa da justiça, retratada tradicionalmente com os olhos vendados – continuou patrocinado pelo CESTRAJU, sem apoio do sindicato. Buscou-se mais uma vez protestar de forma bem humorada contra os descalabros da “justiça” burguesa. Havia, afinal, ainda mais motivos para isso.
Os poderes executivo e legislativo ficaram na berlinda desde que manifestações de rua se intensificaram no Brasil a partir do mês de junho anterior. Mas o judiciário foi pouco lembrado nos protestos. Não se pode ignorar o fato de que este é grande legitimador dos desmandos dos políticos. É ele que autorizou: a demolição do Hospital do IASERJ, a desocupação da Aldeia Maracanã, a permanência de manifestantes atrás das grades, a exploração privada do estádio Maracanã, o corte de ponto de grevistas etc. Também é o judiciário que demora décadas pra julgar processos de regularização fundiária de favelas e ocupações urbanas, além de emitir liminares sustando decisões de manutenção de posse, para, assim, remover favelas e despejar sem-tetos.


O TJ soube ainda aproveitar o esvaziamento dos protestos e as festas do fim do ano de 2013 para aprovar um escandaloso auxílio-moradia aos seus juízes e desembargadores. Encaminhado no dia 12 de dezembro anterior, o projeto foi aprovado na ALERJ (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro) no dia 18 e sancionado pelo governador Sérgio Cabral no dia 23, tendo recebido um descabido “pedido de urgência” visando sua aprovação a toque de caixa, para evitar questionamentos do povo sobre esse “auxílio” vergonhoso (que soma cerca de R$5.000,00 – cinco mil reais – mensais para cada juiz ou desembargador, alguns dos quais já recebiam montantes que chegavam a ultrapassar 90 mil reais por mês!!!).
Não é só no Rio que esse quadro surreal se apresentava. Em Minas Gerais, por exemplo, já estava em pauta um absurdo “auxílio-livro” de R$13.000,00 (treze mil reais) para os magistrados, dentre outros privilégios. Enquanto isso o povo continua sem acesso a cultura, educação, saneamento básico, saúde pública de qualidade…
Por essas e outras são essenciais iniciativas como essa do Bloco da Ceguinha. Tal evento (que também é uma maneira de valorizar o Carnaval democrático, popular, livre, bem diferente da festa elitista hoje promovida em clubes burgueses e sambódromo) é especialmente importante por ser um protesto irreverente, uma denúncia chamativa, uma divertida e prazerosa forma de conscientização de classe.


Em 2013, o enredo se chamava “Eu de tanga, eles de toga”, uma criação coletiva assinada pela ala de compositores do bloco. Seus versos diziam:

“Alzheimer é mal dá esquecimento
Mas sou teimoso e vou lembrar todo momento
Com a Ceguinha eu boto pra quebrar
O caldeirão da bruxa eu vou chutar
Tentaram matar a Ceguinha
Não vou deixar
Se o Sind é quieto
O meu lado irrequieto incomoda o marajá
Se eles tem auxilio-glutão
A dentista tem pensão
Transparência e blá-blá-blá
Darth Vader pega a asa-Delta
Privatiza com Cabral
Pra Cyrella fez a festa
Tem até cartório pra amante
Tercerizam pra Locanty
Caixa dois de governante
Eu de tanga, eles de toga
Eu despacho, eles na ioga
Só me chamam pra ralar
Tomo esporro, eles no spa”

Como se vê, tivemos referências à falsa transparência do judiciário, ao descabido auxílio-refeição para juízes, às empresas Delta, Locanty e Cyrella que se enriquecem às custas de dinheiro público, ao assédio moral contra servidores… Todas essas críticas, que incluíram a denúncia do conluio entre o governador Sérgio Cabral e vilões todo-poderosos do Judiciário (“Darth Vader”) não passaram despercebidas. Tanto é que agora em 2014 notamos uma certa vigilância da Corregedoria Geral sobre o bloco: nada capaz de intimidar nossa animação, entretanto.
No presente ano, o enredo teve o instigante nome “O óbulo da Dona Justa virou o ósculo da Dona Bruxa”. Tal título pode significar a perda da ilusão no Judiciário: as dádivas da Dona Justiça (simbolizada pela deusa Têmis) se transformando em bruxarias contra o povo. Mas a interpretação é livre, cada um que faça a sua.

Nesta segunda edição independente do bloco, pudemos observar um pequeno aumento no número de participantes. O mais evidente, no entanto, foi o crescimento do entusiasmo dos foliões: se em 2013 já havia uma boa animação, em 2014 ela foi ainda maior – uma banda de qualidade, confete, serpentina, máscaras (que se dane a proibição governamental!), samba no pé e protestos bem-humorados ao microfone.

Já ficou definido que em 2015 nos reuniremos novamente, cheios de alegria e animação, na quarta-feira que antecede o Carnaval em frente ao Fórum Central do Tribunal de Justiça. Desde já fica todo mundo convidado. Vale ressaltar que o bloco é puxado exclusivamente por trabalhadoras e trabalhadores, sem nenhum patrocínio estatal ou empresarial. O apoio, portanto, tem que ser dado aí por você que está lendo esse texto. Venha, divulgue, nós podemos fazer a diferença.