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domingo, 12 de abril de 2020

Breve Análise da Situação do Governo Brasileiro em Março-Abril/2020


(Por: W.B.*)
Este texto foi elaborado na primeira quinzena de abril/2020. Apesar de o Brasil parecer estar parado por conta da grave crise causada pela pandemia do novo coronavírus (covid-19), tudo vem acontecendo bastante rápido no governo federal. Então é possível que muito do que aqui fica escrito perca sua atualidade ou mesmo seja desmentido por fatos novos. Mas, ainda assim, continuará importante pelo menos como registro: o que é bastante válido, principalmente nesta época em que a história é desvalorizada, e os acontecimentos costumam ser esquecidos na velocidade dum clique.

O presidente Jair Messias Bolsonaro tem negligenciado os cuidados necessários para evitar o espalhamento do vírus, que já atinge todo o planeta em nível catrastrófico. Ele tem também usado o chamado gabinete do ódio para disseminar notícias falsas sobre a doença, buscando convencer as pessoas de que não há perigo grave. Esse gabinete é composto por pessoas pagas especificamente para elaborar e replicar textos, imagens e vídeos manipulados tecnologicamente, com conteúdo (mentiroso ou tendencioso) que favoreça os objetivos do governo federal. A finalidade maior é manter o lucro dos ricos à custa da saúde dos pobres, que são convencidos a voltar ao trabalho em vez de exigir subsídios para se manter em confinamento. A morte de pessoas idosas é até desejada pelo governo, que as considera improdutivas. Não por acaso, a política previdenciária do ditador Augusto Pinochet (1915-2006), que gerou altíssimo indíce de suicídios de idosos no Chile, é enaltecida pelo ministro da Economia Paulo Guedes e pelo próprio presidente.

Em apoio ao gabinete do ódio, há os militantes pró-Bolsonaro (apelidados de bolsominions), que, mesmo não sendo remunerados para isso, têm reproduzido notícias falsas dia e noite. Geralmente os bolsominions são filhinhos de papai, ricos ou classe média alta, sem nada o que fazer além de ficar pendurados em telefones-espertos ou microcomputadores, bajulando o presidente ou atacando seus supostos inimigos. Por que eu escrevo aqui "supostos"? Ora, porque Bolsonaro e o gabinete do ódio inventam inimigos internos para manter os bolsominions em eterno clima de guerra e de apoio a uma fantasiosa imagem de "presidente guerreiro destemido". Essas figuras, pintadas como adversárias em alguns momentos, na verdade são completamente submissas ao presidente: é o caso do vice Hamilton Mourão, do chefe da Casa Civil Walter Braga Netto e dos ministros da Justiça Sérgio Moro e da saúde Luiz Henrique Mandetta.
Vê-se que Bolsonaro usa o gabinete do ódio para esculachar, pela internete, pessoas que integram seu próprio governo e, assim, mantê-las com o moral baixo e, consequentemente, submissas. Esse procedimento também serve para movimentar a referida militância voluntária (não remunerada). Tal militância é formada, em geral, por indivíduos dotados dum sentimento rebelde fútil. Eles não têm a rebeldia salutar contra um sistema socialmente injusto, visando a construção de um mundo harmônico, libertário e igualitário. Não, a rebeldia dos bolsominions é uma rebeldia narcisística, focada em dar vazão a ressentimentos, rancores, mesquinharias contra tudo que não os agrada. E não agrada por capricho: não agrada porque o bolsominion acha esquisito e pronto, sem racionalidade. Assim vem o ódio às pessoas LGBTQIs, quilombolas, indígenas, feministas e socialistas dos mais diversos matizes (que eles tacham, estereotipadamente, de "comunistas", sem nem estudar o que é isso).

Esses rebeldezinhos são informalmente recrutados - via Facebook e WhatsApp - para o combate a mais supostos "esquerdistas infiltrados" (que muitas vezes são membros do próprio governo e integrantes da extrema direita). Enquanto os bolsominions se mantêm ocupados com esse "combate" vazio, se sentem valorosos e nem têm tempo de se voltar para suas próprias frustrações. Não têm tempo para ver que, na verdade, o "mito" Bolsonaro não dissolveu nenhum de seus ressentimentos. As insatisfações pessoais (que permanecem!) são postas na conta dos opositores, dos "comunistas" e dos supostos inimigos internos.
SP, 26/05/19 - Manifestação apoia Bolsonaro (ameaçado por quem?)
Boa parte da esquerda cai na cilada de enxergar, nesses escrachos feitos pelo gabinete do ódio contra membros do executivo federal, um sintoma de que o governo estaria rachado. Ou de que que o Bolsonaro está isolado dentro do governo e não manda mais nada. Essa esquerda não reflexiva acaba acreditando, por exemplo, que  o ministro Luiz Henrique Mandetta não caiu no início de abril/2020, por causa da interferência dos militares. Ora, os milicos estão completamente domesticados, pois as forças armadas receberam bastante recurso que Bolsonaro tirou da Saúde e da Educação.

Não há absolutamente nenhuma evidência (ou mesmo indício) de que o o chefe da Casa Civil Braga Netto esteja mandando mais que o presidente da república, como afirmaram alguns militantes da esquerda parlamentar. Esta, cada vez mais, tem se mostrado uma esquerda "pra lamentar", pois completamente doutrinada pelos partidos políticos institucionais, dogmática e tendente a cultuar líderes, sem raciocinar por si mesma.

Bolsonaro não está baratinado: esse movimento de vai e vem, esse eterno morde e assopra com seus aliados é um jogo de mídia que mobiliza o público dele e é a única coisa que ele sabe fazer. Ele não quer governar (e nem sabe), quer é ir dinamitando a república para que passemos a viver uma realidade dominada por milícias e igrejolas caça-níqueis. Sem nenhum tipo de serviço público.
Não está no horizonte um golpe militar, mas sim a destruição de todas as concessões sociais e conquistas civilizatórias, científicas etc. É o reino do egoísmo em último grau, com clãs privados se defendendo com armas. É a violência capitalista completamente descentralizada, um tipo de opressão muito diferente da ditadura militar, mas tão ou mais nefasta do que ela.
Agora, por que a ditadura empresarial-militar brasileira (1964-1985) continua sendo posta como referência positiva pelo governo? Porque Bolsonaro quer dizer que aquele regime despótico foi necessário para proteger o país do "comunismo" que o ameaçava. Assim ele mantém viva a crença na permanente ameaça marxista e faz com que as pessoas aceitem qualquer absurdo que ele faça, pois todos deveriam ficar eternamente unidos contra o inimigo maior (o tal "comunismo"). Afirmando a existência dessa ameaça do passado (que continuaria no presente), Bolsonaro mina qualquer tipo de empatia com as pessoas que sofreram sob a ditadura militar, e que são inimigas ideológicas dele justamente por defenderem igualdade social. E igualdade social é o que ele não quer nesse tipo de sociedade sem normas, selvagem, hipercapitalista, que ele tenta fazer surgir das cinzas da limitada democracia brasileira atual.

Fica claro que é isso que ele quer quando vemos suas ações contra o uso obrigatório de cadeirinhas para proteger crianças nos carros particulares, ou quando ele tenta tirar radares de medição de velocidade em autoestradas. Por mais que não saiba formular isso explicitamente como discurso, ele deseja o reino absoluto da "liberdade" burguesa e o fim completo de qualquer função social do Estado. Só não se pode dizer que ele almeja a extinção do Estado, pois na verdade este permaneceria como aparato puramente repressivo, auxiliando as milícias a controlar o povo, que seria dominado ideologicamente pela igrejas evangélicas.

Para o mercado financeiro, que  mantém Bolsonaro, tanto faz se ele promove o neoliberalismo econômico no estilo de Fernando Collor de Mello, FHC ou João Amoedo; ou se ele vai para o hipercapitalismo anômico do pseudo-filósofo Olavo de Carvalho. Pois o lucro dos bancos continuaria em ambos os casos.

Para que Jair Messias Bolsonaro seja destronado do céu em que se encontra e afunde nas profundezas onde é seu lugar, cabe que façamos nosso trabalho de conscientização mútua, sem sectarismos. É preciso nos escutarmos e pensarmos sobre o que é dito. Lembrando também que, apesar de ser importante vermos o que se passa nas esferas da política institucional, o verdadeiro caminho da mudança social se dá construído coletivamente nos locais de trabalho e moradia. A luta deve ser comunitária, estudantil, sindical, criando nossas formas de produção autônoma e modos livres de viver, desde já. E devemos sempre denunciar e exigir que o patronato devolva o que nos tira pela exploração de nossa força de trabalho.

A luta é longa, mas, por isso mesmo, tem que ser feita desde já. Não temos nada a perder, a não ser as correntes que nos prendem. E nos insurgirmos é sempre melhor que sofrer em silêncio, independente de os frutos virem agora ou num futuro muitíssimo longínquo.

Iniciar uma luta já é, em si, uma vitória.


FONTE:

Canal do filósofo, pesquisador e professor universitário aposentado Paulo Ghiraldelli (UFRRJ) na plataforma de compartilhamento de vídeos Youtube.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
* W.B. é técnico de atividade judiciária do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e associado do CESTRAJU (Centro Socialista de Trabs. do Judiciário).